Quando descobri que estava grávida, com 5 semanas, meu peso era estável, eu tinha uma rotina de treinos intensos, dieta restrita e suplementação. Eu jamais imaginava que a balança saltaria de 65kg pra 79kg em 6 meses.
Na minha antiga rotina, o corpo era o foco, eu planejava me preparar para competir na categoria Bikini, eu comia o mínimo de carboidratos e controlava a quantidade diária de proteínas e gorduras.
Dois dias antes do Natal, em dezembro de 2014, o positivo. Eu já desconfiava mas no fundo não queria acreditar, já havia uma semana que passava mal na academia devido aos exercícios pesados e sentia uma dor insuportável nos meus seios.
Um positivo não bastou pra me convencer, fiz mais três exames de urina e depois o de sangue... E lá estava o meu bebe!!
Acontece que os dias vão passando, seu corpo vai mudando e seus sentimentos também. Não digo que fiquei triste, mas muitas vezes eu chorei de desespero, porque por mais que você leia textos, se informe e saiba que tudo isso é 'normal', sentir na pele é outra coisa totalmente diferente. E você realmente sente, tudo é sentido com a máxima intensidade, seus hormônios estão enlouquecidos dentro de você.
Será que vou ser boa mãe? Será que vou engordar muito? E o parto? O enxoval? São tantas questões, que se o mundo soubesse a última coisa que nos cobraria seria um corpo perfeito na gestação ( e depois dela ).
Eu descobri um descolamento ovular com 8 semanas, meu mundo caiu. O medo de perder o bebe, o medo da reação das pessoas que ja sabiam da gravidez, o medo de perder o meu marido, ja que você fica fora de si. Nós passamos um momento muito delicado, minha cabeça estava somente em conseguir gerar aquela criança, o que me fez ignorar totalmente qualquer fato ao meu redor, o que me levou a muitas brigas desnecessárias, mas eu estava esgotada, sentia o peso do mundo nas minhas costas, embora meu marido nunca saísse do meu lado, você se cobra porque sabe que a responsabilidade daquela vida que está dentro de você, é somente sua.
Hoje com 24 semanas de gravidez, eu sinto um amor fora do comum, eu me preocupo se está tudo bem com ela, se estou fazendo certo, se isso ou aquilo não vai prejudica-la, mas eu preciso assumir que apesar do amor incondicional, existe o meu amor próprio, e esse me faz lembrar muitas vezes do meu corpo antes e me sentir mal. Existe uma cobrança interna, é você com você mesma todos os dias.
Matar um leão por dia também significa isso, aprender a renunciar o seu próprio corpo nesse período, porque ele não é mais seu, ele abriga alguém e esse alguém vai molda-lo de acordo com as suas necessidades.
Eu reconheço que não tenho sido nenhum pouco exemplar com minha alimentação, realmente relaxei, o que tiver vontade eu como, doces, refrigerante, massas, coisas que antes nem se que passavam pela minha cabeça em comer. Mas como controlar a vontade indomável dentro de você? Talvez eu tenha encontrado um prazer momentâneo nisso, são tantas confusões, que comer algo até então 'errado' tornou-se maravilhoso, e isso você querendo ou não, reflete em você, dentro e fora. Aliás eu cheguei a conclusão que as feridas internas são bem maiores que as externas, a cicatriz do parto não me preocupa, embora a dor me apavore, mas o meu psicológico me deixa extremamente balançada. Eu quero estar ótima pra receber meu bebe, não quero passar sentimentos ruins pra ela e tento ao máximo não me olhar no espelho atualmente, talvez seja egoísmo, talvez fuga, mas foi a forma que encontrei de poupa-la de fatores externos desnecessários.
Eu não estava preparada pra encarar tudo isso, mas agora me sinto encorajada e ansiosa pra curtir cada momento. E meu corpo? Eu não nasci com músculos definidos, nem cabelo loiro, nem maquiagem perfeita, tudo isso eu construí e quem disse que um prédio quando derrubado não pode ser reerguido?
O que quero dizer com tudo isso, é que por mais que seja dolorido ver tudo mudar, existe um motivo maior que deve ser a sua força cada vez que você chorar e se preocupar. Ninguém está cobrando isso de você, nós criamos isso, somos mulheres e ensinadas que pra sermos felizes, termos alguém do nosso lado e vencer na vida, precisamos ser 'perfeitas', mas perfeitas pra quem? Não deixe que padrões atrapalhem um momento tão sublime da sua vida, apenas pense que tudo é passageiro, já já você está com seu bebe nos braços e seu corpo voltando ao normal, sua mente, sua vida... só que muito mais feliz! ;)
Jéssica Lansarotto, 23, casada, São Paulo. Maquiadora formada pelo Senac. Esperando a nossa primeira princesinha, Heloísa. 
